top of page

Brincar juntos: como a participação ativa dos adultos transforma o desenvolvimento infantil

  • Foto do escritor: João de Luca Refundini
    João de Luca Refundini
  • 19 de mai.
  • 3 min de leitura

Em uma era marcada pela aceleração do tempo e pela fragmentação das relações, o ato de brincar com as crianças muitas vezes é relegado a um plano secundário — visto como uma atividade autônoma, restrita ao universo infantil. No entanto, décadas de pesquisa em psicologia do desenvolvimento, neurociência e pedagogia demonstram que a participação ativa dos adultos no brincar não é apenas benéfica, mas fundamental para o crescimento emocional, cognitivo e social das crianças.  

Quando os adultos se engajam genuinamente nas brincadeiras, eles deixam de ser meros espectadores e se tornam cúmplices do processo de descoberta, oferecendo segurança, ampliando repertórios e fortalecendo vínculos que ecoarão por toda a vida.  


A presença como alicerce do vínculo afetivo  

Brincar junto é um exercício de presença plena. Não se trata de supervisionar ou direcionar, mas de adentrar o mundo simbólico da criança, seguindo suas regras, validando suas ideias e celebrando sua criatividade. Esse envolvimento comunica, de forma não verbal, uma mensagem poderosa:  

"Você é importante para mim. Este momento é nosso."  

 Por que isso importa?  

  • Segurança emocional: Crianças que brincam regularmente com adultos de referência (pais, cuidadores, professores) desenvolvem um apego seguro, associado a maior resiliência emocional e autoconfiança.  

  • Modelagem de comportamentos: O adulto funciona como um "espelho social", demonstrando habilidades como turn-taking (alternância de turnos), empatia e resolução de conflitos — essenciais para as interações futuras.  

  • Regulação emocional: Brincadeiras que envolvem desafios (como jogos com regras) permitem que o adulto ajude a criança a lidar com frustrações de forma saudável, co-regulando emoções.  

Exemplo prático:  

Um jogo de "faz de conta", em que o adulto interpreta um personagem escolhido pela criança, não só estimula a linguagem, mas também permite que a criança explore medos e ansiedades em um ambiente seguro (ex.: "Vamos enfrentar o monstro juntos?").  


O brincar como laboratório de aprendizado  

Aqui, o adulto assume um papel de "andaime" (scaffolding), termo cunhado por Jerome Bruner para descrever como os mais experientes apoiam o aprendizado infantil sem substituir sua autonomia.  

 Como isso se manifesta?  

  • Expansão cognitiva: Se a criança constrói uma torre desequilibrada, o adulto pode propor: "E se usarmos blocos maiores na base?" — introduzindo conceitos de física de forma lúdica.  

  • Desenvolvimento da linguagem: Diálogos durante brincadeiras ampliam vocabulário e habilidades narrativas (ex.: "O que sua boneca está sentindo? Como podemos ajudá-la?").  

  • Função executiva: Jogos de regras (como memória ou dominó) exercitam memória de trabalho, controle inibitório e flexibilidade mental — bases para o sucesso acadêmico.  

Uma curiosidade:  

Crianças que brincam com pais apresentam mais habilidades de solução de problemas aos 5 anos em comparação às que brincam sozinhas.  


Memórias afetivas: o legado invisível do brincar  

As memórias mais duradouras da infância raramente estão ligadas a brinquedos caros, mas sim a momentos de conexão autêntica. A neurociência explica:  

  • O cérebro registra emoções: A amígdala e o hipocampo (áreas ligadas à memória emocional) são ativadas quando a criança se sente vista e acolhida.  

  • Rituais de brincadeira (ex.: uma cantiga antes de dormir, um jogo secreto inventado) criam referências de segurança que ajudam a criança a enfrentar desafios futuros.  

Exemplo inspirador:  

O antropólogo Gregory Bateson destacou que, em culturas indígenas, adultos frequentemente brincam com crianças usando elementos da natureza (galhos, pedras), transmitindo saberes ancestrais de forma não formal — uma prática que une afeto e aprendizagem.  


O adulto também se transforma  

Brincar com uma criança é uma via de mão dupla. O adulto:  

  • Reaprende a curiosidade: Ao seguir o fluxo da brincadeira infantil, exercita a mentalidade do "beginner’s mind" (mente de principiante), tão valorizada em práticas como mindfulness.  

  • Redescobre a simplicidade: Um lençol vira uma cabana, uma caixa vira um foguete — e isso lembra o adulto da potência do improviso e da criatividade.  

  • Fortalecer relações: Para avós, por exemplo, brincar com os netos pode ser uma forma de rejuvenescer vínculos e compartilhar histórias familiares.  


Escolhendo brinquedos que conectam  

Nem todos os brinquedos incentivam a interação. Priorize:  

  • Materiais não estruturados: Blocos de madeira, massinha, tecidos — que permitem infinitas possibilidades.  

  • Jogos cooperativos: Como "Catan Junior" ou "Dixit", que exigem trabalho em equipe, para os mais velhos.  

  • Brinquedos que estimulem o diálogo: Fantoches, livros interativos ou kits de profissões (ex.: mercadinho).  


Dica da Minha Bag Criativa:  


ree

Em um mundo que privilegia resultados imediatos, dedicar tempo ao brincar conjunto é um ato de resistência. É afirmar que o desenvolvimento infantil não se mede apenas em habilidades isoladas, mas na qualidade das relações que construímos.  

Quando um adulto se abaixa para brincar no chão, ele faz muito mais que entreter — ele ativa circuitos neuronais de prazer e conexão, planta sementes de confiança e escreve, junto com a criança, uma história de afeto que nenhum app ou brinquedo high-tech poderá substituir.  

Na Minha Bag Criativa, acreditamos que os melhores brinquedos são aqueles que, depois de usados, deixam marcas invisíveis: no coração e no cérebro. 


 
 
 

Comentários


Não perca nenhuma atualização! Inscreva-se na nossa newsletter para receber os últimos artigos diretamente na sua caixa de entrada e fique por dentro de todas as novidades da Minha Bag Criativa.

bottom of page